quarta-feira, 27 de janeiro de 2016



China: o fracasso como fonte do sucesso 
Vamos direto à ferida. 
O grande problema econômico chinês é a gestão da economia feita por Pequim. Mas também é sua grande vantagem competitiva.

Nós, brasileiros, deveríamos rir até chorar…  
Imaginem os chineses crescendo 7% ao ano e reclamando da política econômica de seus governantes. 
Enxergamos muitos paralelos entre o que a China foi capaz de construir em sua economia e o que o governo atual imaginava ser possível aqui no Brasil. 
A grande (enorme) diferença é que os governantes de lá mostram uma competência muito maior do que os nossos. Claro que existem problemas, mas se o histórico de crescimento dos últimos 20 anos do gigante asiático for observado, eles estão em boas mãos. 
No entanto, antes de confiar na capacidade da liderança chinesa de tirá-los do "atoleiro", vamos clarear alguns pontos. 

O fracasso é a fonte do sucesso 
Parece que o pânico está tomando conta dos mercados globais. 
Mas os mercados de ações chineses são relativamente desimportantes para a economia local. 
Aproximadamente 80% dos investidores em ações por lá são pessoa físicas. Sem fundamentos, compram por impulso e vendem por medo. Isso, obviamente, acaba amplificando os movimentos. 
Uma maior presença de investidores institucionais daria uma maior estabilidade para as ações chinesas. 
Lembrando que a renda fixa da China impõe perdas a seus investidores e é bastante difícil aos locais investir em ativos offshore
Claro que podemos tirar algumas conclusões olhando os movimentos locais, mas não podemos superestimar seus efeitos sobre a economia real. 
Podemos então imaginar que os mercados por lá sejam bastante voláteis. É o que estamos vendo neste início de ano.

Como a distância testa a força do cavalo, só o tempo revela o real caráter de uma pessoa. 
Os mercados chineses sofreram o resultado da mesma injeção de capital que as companhias de infraestrutura. 
Muitos projetos prontos estão vazios mostrando claramente como o ímpeto de construção estatal foi longe demais. 
O Banco Central chinês vem injetando doses cavalares de crédito diretamente na veia de companhias de infraestrutura estatais e outras bem conectadas com o partido no poder. 
Qualquer semelhança com o que o BNDES faz aqui no Brasil não foi intencional. 
Logo, muito do que aconteceu no mercado chinês e em sua própria economia foi devido à injeção de capital barato. Uma hora a festa teria que acabar. 
Podemos então ter o estouro de uma bolha de crédito na China. 
Isso nos leva ao próximo ponto importante. 

Eventos vindouros projetam sombra à sua frente 
Os bancos são responsáveis por aproximadamente 55% do índice HSI, da Bolsa de Hong Kong. 
Se existe uma bolha de dívida na China, os mais expostos ao seu estouro são os bancos locais. 
A maioria é estatal e, claramente, está mais preocupado em manter outras estatais vivas que em ter um retorno interessante sobre seu capital. 
A China sempre usou seus bancos como ferramentas de política econômica. Ideia que foi também utilizada por nossos geniais governantes por aqui. 
O problema é que lá os bancos não são rentáveis como os nossos e negociam a múltiplos até menores do que os brasileiros. 

É fácil encontrar 1.000 soldados mas difícil encontrar 1 só general 
O problema principal no gigante asiático é que o benefício de uma mão de obra barata no país está acabando. 
O governo procurou desvalorizar o yuan neste início de ano justamente para elevar a competitividade de sua indústria. Mas ao invés de elevar a confiança dos investidores locais, o movimento teve resultado contrário. 

Já em 2013, o Governo chinês anunciou um pacote de reformas e vem implementando essas mudanças econômicas. 
A recondução de foco na economia, da construção civil e indústria pesada para os serviços, é desejável tanto localmente quanto no exterior. 
É aqui que os governantes querem trabalhar. 
A economia chinesa precisa se libertar dos pesados controles estatais para despertar o espírito animal dos capitalistas locais. 
As estatais zumbis precisam ser refreadas. Os sistemas de previdência social, de assistência médica e de impostos precisam ser reformados e fortalecidos. 
Uma melhor regulamentação ambiental é crucial. 

Um buraco pequeno não tapado pode se tornar um buraco gigante muito mais difícil de consertar 
A demanda está em queda, inflação em baixa e dívidas crescendo. 
A confiança nos números de crescimento chinês impactam diretamente a confiança na capacidade de pagamento dos atores locais. 
A dívida do governo equivale a somente 55% do PIB - o Brasil está em 66% aproximadamente. EUA está em 89% e Japão em 234%. Mas o problema é (como no Brasil) o crescimento desta dívida. 
A dívida de empresas não financeiras chinesas cresceu de 72% para 125% do PIB desde 2007. 
O contínuo aumento de estímulos econômicos permitiu que siderúrgicas e mineradoras improdutivas continuassem operando. 
Vemos os impactos diretos destas políticas no setor siderúrgico e de mineração global, e também nas empresas brasileiras. 
A péssima alocação de capital pelo estado nos últimos anos e a manutenção de empresas zumbis improdutivas puxa para baixo a produtividade da economia como um todo. 
A China precisa deixar que suas companhias fantasmas quebrem e que o capitalismo comece a irrigar sua economia. Uma questão de eficiência.

Um pé perfeito não tem medo de um sapato torto 
Como vemos no Brasil, é difícil alcançar isso rapidamente. 
Mas certamente o governo chinês tem maior credibilidade que o nosso em conseguir realizar reformas e buscar consenso. Isso já é de grande ajuda. 
Os estímulos econômicos são apenas uma muleta até que a economia consiga novamente parar de pé sozinha. 
Mas o crescimento global está em retração há alguns anos. 
Claro que a injeção de capital por parte do PBOC na economia é só uma medida paliativa. O que fará o gigante ressurgir das cinzas são as reformas econômicas. 
Ao contrário do que nosso Governo faz por aqui, por lá vemos mudanças acontecendo. 
O fator determinante para a China continuar caminhando para se transformar na maior economia do mundo é a velocidade das reformas. 
A economia precisa retomar o fôlego antes que o caixa do governo seja exaurido. 
Na falta de reformas, a China está fadada à mesma estagnação de economia de renda média que o Brasil se encontra desde os anos 70. 
A corrida já começou.
 
Fonte: Bruce Barbosa – Resenha Empiricus

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